Geração Neo-Beat Junkie Obsessiva.

Geração Neo-Beat Junkie Obsessiva.


Arthure 'Crack' di Monzza.

Guiliano 'Jamaica' Gasparetto.

Federico 'The Gangster' Carletti.

Francesco 'Nonsense' Manzano.


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Insanos Relatos das Noites Insones

O breu é meu calvário
Parte 1


Olhos abertos, vidrados no teto: o descanso já não me alcança mais; sonambulismo constante e frenético, noites insones, despertas, sem paz... Tento dormir, me contorço sem fim, mas o sono fica sempre mais longe; me desespero com tamanha agonia, procuro a calma mas é o frenesi que me contamina. Perdido na neblina de só ver mundo real, já não tenho harmonia, pois sem sonho nada é igual; passo as horas contemplando o passar da existência, sem nenhum repouso. Ando pela casa, passo as mãos na cabeça e só de aflição encheria baldes, tentando encontrar a calma que – cadê? – foi-se embora – ora, meu rapaz, são três e meia da madrugada e o bar da esquina continua com suas mesas empoeiradas e copos gordurosos esperando o próximo que não consegue dormir enchê-los de uísque barato com água até que desmaie de bêbado e fique pleno em sua tão almejada serenidade, estirado na calçada em algum beco por aí.
É isso mesmo que vou fazer, como esse quarto me nauseia – precisava mesmo dar uma saída e agora, na rua, faço parte do breu ao invés de apenas observá-lo; e é claro que quando via o sol respingar sua última gota de claridade sobre o meu lado da Terra, a última gota de claridade que eu tinha dentro de mim se esvaía também por completo, encharcando meu ser com a mais tenebrosa escuridão de ter a certeza que não conseguiria pregar os olhos de forma alguma nas próximas infelizes horas que eu tinha pela frente. O bar já pude ver: está com um fraco movimento, mas ainda vive; aqueles agonizantes que não perdem a oportunidade de ficar até as últimas conseqüências, tendo que sair carregados pra fora tão entorpecidos que inconscientes. Escolhi uma mesa num canto e pedi aquilo mesmo que a parte Mefistófeles da mente me aconselhou: uísque barato, com gelo em vez de água (não sou acostumado ao calor do Inferno, será que lá ninguém bebe cerveja? Já desconfiei mesmo que fosse coisa dos anjos), o importante é que sequei uns três copos já nos primeiros minutos que entrei, tal estado me encontrava. O garçom cochichava algo com alguém na mesa apontando de certo pra mim, de certo perguntando quem eu era e querendo dizer com isso se eu tinha ou não dinheiro pra pagar a conta; mas, que merda, eu tinha, eu tinha! Deve ser pra mim que ele está apontando, o desgraçado... Levantei o copo pra pedir mais um e ele veio, olhando com severidade. Aproximou-se firme e foi dizer algo, eu já pressentindo que iria querer me expulsar do bar e já esperando pra partir pra cima dele quando me disse calmamente “Fechamos em uma hora.”, e pegou meu copo pra enchê-lo. “Traz algo mais forte então”, eu respondi, ao que um bebum desdentado sentado num canto ali perto soltou uma risada rouca e estridente, “Lembra qual foi a última vez que alguém disse isso, Tom?”, e o garçom, sem rir: “Não conheço ninguém que viu aquele homem virando a dose de Passamal se esquecendo da cena.”. “Uma dose apenas?” eu disse; e ele “Sim. Vai querer ou posso voltar a trazer seu uísque com gelo de bixa?”. Aquilo me deixou desconcertado e, redemoinhadas as idéias no vento do pensamento, disse a ele que sim, ia querer experimentar essa tal Passamal, e que trouxesse uma dose dupla, por favor. O bebum soltou uma gargalhada que o fez quase cair da cadeira. O garçom sorriu um sarcástico riso de triunfo, pensando “Um maluco bêbado a menos no mundo, afinal”, e saiu com meu copo pra buscar a dose dupla. Senti espasmos estomacais antecipatórios de quando já se sente algo queimando a barriga antes mesmo de beber só de olhar a garrafa escondida no armário, sem rótulo, que Tom agora abria e enchia o copo afastando o rosto para o outro lado, como se tivesse um cheiro exageradamente forte; aproximou-se e na metade do caminho já pude sentir o fragor quente de cachaça, aumentando até que o copo estivesse na minha frente, com as únicas seis pessoas que estavam no bar me olhando com pena, e como se esperassem algo incrível prestes a acontecer. Devolvi o olhar, peguei o copo e sequei de uma só talagada. Parecia que o cheiro era bem mais forte que o gosto, mas acreditem: essa foi a última sensação que me lembro ter tido naquela noite.

**
Abriu os olhos.
A visão embaçada rodava num giroleio trôpego e indeciso; flashes da madrugada se exibiam tremulantes para logo em seguida virar fumaça e desaparecer no ar. Demorou um pouco até que recobrasse os sentidos, mas as idéias continuavam embaralhadas: nada pensava, lembrar impossível e quem dera simplesmente deixar de existir pra mais não ter que suportar aquela que, já nos primeiros segundos, era a rebordose mais violenta de toda a sua vida. Percebeu que estava no fim da madrugada e, tomado de uma súbita consciência espacial, viu que havia dormido numa calçada de pedra na posição mais desconfortável possível, o que lhe proporcionava insuportáveis dores nas costas, ombros, pescoço, rosto... Rosto? Passando a mão sentiu calombos de inchaço por todo o corpo; ficou a par de um horrível gosto de sangue adormecido na boca e, cuspindo, um dos dentes saltou pra fora, de onde já devia estar amolecido por alguma pancada. Tentou levantar, mas – porra, que merda é essa aqui no chão? Foi o que pensei quando vi o que pareciam fiapos de madeira na camisa toda rasgada, vindos com certeza daqueles encostos quebrados do que algum dia fora uma cadeira de bar. Dizem que com álcool as pessoas simplesmente fazem as coisas que sentem vontade de fazer, coisas que – na grande maioria das vezes – nunca fariam sóbrias; com Passamal as pessoas faziam o que queriam ao pé da letra. Foi a conclusão à qual cheguei antes do torvelinho se desgrenhar e, girando, esmufaçar realidade em memórias que voltavam, flashes de lembranças virando passado imaginado como se – num átimo me lembrei de tudo o que se passou naquela fatídica madrugada.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

as piores coisas.

Sonhei com alguma coisa noite passada, o sono da minha rebordose me fazendo suar frio na madrugada inquieta. Lutando entre um sonho difícil e a realidade embaçada por trás das cortinas de anfetamina e puro cansaço animal, querendo um cigarro, mas incapaz de mexer um sequer músculo. Do meu lado, o cheiro da garota que partiu no meio da noite ainda permanece, assombrado pelo frio ar que entra da janela sem persianas, escancarada para as luzes azuis da cidade. Não há nada que se possa dizer sobre um momento desses, a lembrança de carne quente contra a minha há apenas algumas horas atrás, e agora isso.

No final tudo se resume aos poucos momentos de glória. O resto é apenas o peso do fracasso que se leva diariamente nos ombros. Quatro da manhã, duas horas pra acender um maldito cigarro.
Não há mais maconha. Acabou o alcool e a risada com os amigos. Acabou aquilo tudo que parecia a única realidade há pouco tempo atrás, e agora resta a risada de desespero de uma ressaca ridiculamente filha-da-puta.
Levanta, que tu vai trabalhar, porra. Vai trabalhar e encarar todas aquelas pessoas do lado de fora, que falam alto, mastigam de boca aberta e gostam de tomar banho de sol. Quem é o desgraçado que gosta de banhos de sol? puta que pariu, que dor de cabeça.

Ainda não me lembro do sonho. Seria apenas mais uma lembrança do sexo de ontem? As risadas insanas pelas ruas madrugadas de estrelas e pequenos pedaços de felicidade instantânea?
não.


Tá vívido demais, colorido demais na minha cabeça. A dor de cabeça não me deixa pensar direito, são nove horas da manhã e já tá um sol do caralho. Com certeza foi um sonho, um sonho bom. Uma vez um cara me disse que morremos todas as manhãs, que os sonhos são nossa verdadeira casa. Sei lá. Só sei que isso aqui tá com uma cara de inferno, meu emprego, a sala de aula na faculdade, não quero isso não.


Sonhei que estava voando. Era isso mesmo.


Sempre senti meus pés presos demais no chão. A lsd te faz flutuar,mas é só ilusão. No final, é tudo ilusão. Você acorda sozinho, com dor de cabeça, e tem que ir trabalhar. Vai com os pés bem presos no chão. Volta com a cabeça e tudo mais abaixo do solo. 


Não há nada a se fazer.
Talvez engolir outra dose de ilusão, e procurar a garota da noite anterior.
É.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

tome este comprimido e aproveite a viagem.

Dá vontade de sumir igual o Kerouac; fazer uma mochila e zarpar pro mundo. Durante muito tempo pensei que fosse meu karma, fugir de tudo; às vezes eu preciso sair de perto de mim, porque me torno insuportável pra mim mesmo por uns tempos. Às vezes eu me torno meu próprio parasita.
É tudo à toa. Dos ouvidos pra fora existe o silêncio; só existem sons do lado de dentro. As cores só aparecem no interior da retina; por fora o mundo é silencioso e escuro. Não tem cheiro, não tem gosto, não tem ninguém; você é sua mente que parasita seu corpo e o resto é irreal; uma ilusão magnífica e devastadora. Estamos todos juntos dentro da mesma alucinação. Eu não pedi pra usar essa droga poderosíssima chamada de vida, ela foi inoculada em mim forçadamente; seus efeitos podem durar segundos ou anos, mas a única certeza que tenho quanto à sua composição é que vou ter uma overdose assim que a onda terminar e morrer de volta pro nada total.
Quando acabo de colocar um papel na língua, fico apressado pra fazer tudo de bom que conseguir enquanto a loucura estiver. Preciso falar, preciso sorrir, preciso ver coisas extraordinárias de tão simples, pensar em coisas absurdas, conhecer lugares, pessoas absurdas, estar vivo de verdade, sair à noite sem rumo com uma garrafa de vinho nas mãos, sozinho, hipnotizado pela lua lá no céu, protegido pela escuridão e pelas estrelas silenciosas que me acompanham. Há uma vontade inexplicável de abraçar o tempo em agradecimento àqueles momentos tão bem-aproveitados e felizes.
Hoje eu percebi que a vida é uma droga poderosíssima, daquelas que você tem certeza que só vai tomar uma vez pra experimentar; só que antes da metade da onda já está viciado e com medo de acabar. Abstinência de vida é a pior coisa que existe. Depois que você toma, começa fraco, um fiozinho de loucura; depois de uns anos você até aprende a controlar a onda (mais ou menos), mas segurar é impossível. É pancada demais, e vai ficando cada vez mais pesada até atingir o auge, lá pelos trinta anos depois de começar. Nada de trinta minutinhos pra bater - são trinta ANOS, velho. Pode esperar. Eu comecei a viajar há dezoito anos atrás e já to alucinado aqui, transtornado. Depois muito tempo você percebe que a onda tá acabando, ficando mais fraca, até acabar de vez.
É uma oportunidade inigualável de conhecer um mundo novo. Um mundo onde todas as pessoas estão loucas de no mínimo uma droga em comum: vida. A Terra é um planeta em festa, uma rave absurdamente gigantesca, onde todo mundo ganha um comprimido de vida na entrada. O preço do ingresso é simbólico: basta colocar o comprimido na língua e esperar dissolver.
Boa viagem.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

sexo, drogas e...

É um momento de iluminação em que as palavras não importam mais: meaninglessmente falando, trôpego como a maça no pé sob forte chuva, a iminência das idéias que insistem em gotejar no papel, restos do que se passa por dentro.
O dia é frio e a noite é escura. Frenesi descompassado rege os passos dos calçados roletando na cidade, lá pelas seis horas do viaduto tampando o pôr-da-luz acima das cabeças.
Um maluco parado passando  um ar de estaticidade olha as horas no punho esquerdo enquanto espera, no infernal redemoinho de movimento que o cerca, parado em frente à distribuidora de bebidas, esperando, na frente do viaduto e suas sombras que já iam caindo conforme os carros iam sempre a rodar suas rodas pra frente. Só pra frente.
Então ele perde a paciência de tanto esperar quando ouve um assovio de outro maluco que o cumprimenta entregando-lhe, junto com um sorriso de boasvindas, a Hóstia Sagrada do Prazer Espírito-carnal, o Supra-Sumo da experiência sensorial humana na Terra, a chave que abre a torneira enchurrante dos pensamentos irrefreáveis, colados nos sentires sortidos da percepção.
Paga o maluco.
Põe na boca.
Espera.
























Quando estamos sob efeito do ácido - já em níveis avançados, depois das três horas pós-ingestão - a matéria é só um ponto sólido ínfimo e completo flutuando no nada total. Se você olha por um lado - coloca aquela música certa, vai praquele lugar, com aquelas determinadas coisas ao redor e iluminação próprias, onde tenha exatamente aquela cerveja que te deixa no grau certeiro e se por um acaso você acaba - por causa disso tudo - levando AQUELA específica mulher pra sua cama - aí então pode-se dizer que nada vai sobrar do que você entende por espaço, matéria, cama, dama, tempo, escuro, cheiro, gosto, goso, dente, carne, língua, pernas, sangue, passado, vida.
Se pingar na terra o suor daquela foda, vão brotar eufolegrias com semente de skunk limonado.

domingo, 22 de agosto de 2010

Noites secas nas anfepramonas da cidade

Malditas balas de anfepramona, me disseram que iria acabar com a minha fissura, me juraram que eu iria ficar satisfeito, eu vi na face do desgraçado que me passou, ele estava perturbado, acho até que alucinado, maldito, devia estar mesmo muito louco mas não de anfepramona, essa porcaria de pó contra obesidade, eu deveria ter pensado desde o começo, aquele cara não parecia confiável e me cobrar 10 barões, eu esta mesmo muito fissurado e não havia mais nada na cidade naquela noite, parecia que tudo havia secado, sim, tudo sumiu, desapareceu, evaporou, SECOU, porra eu precisava de alguma coisa para fazer minha cabeça e a unica merda que me apareceu foi a maldita anfepramona, aquela desgraça de pó, e aquele desgraçado que me passou, fiquei esperando mais de 2 horas o bastardo na porta de um bar no meio do nada. O bastardo chegou.
"Ei amigo, eu só tenho anfepramona, 10 barões, é a cera mano eu tô doidão aqui."Disse o Bastardo
"Está bem me dê logo essa merda de  pó contra a obesidade."Naquela altura eu estava sem opções, realmente era pegar ou largar, e é claro que eu peguei, afinal eu sou Junkie e para nós não existe essa de deixar passar a oportunidade, a experiência, o prazer, o medo, a fissura, a dor, a angústia, a aflição, a dependência, o fim, nós sempre "pegamos" quando aparece a oportunidade, e naquela noite a anfepramona era minha unica esperança, afinal eu estava desesperado, no meio do nada, perdido em uma cidade suja, com o cheiro pior que o da maldita anfepramona, e agora eu estava sem nenhum barão no bolso, naquela oportunidade só me restava uma coisa a fazer, a coisa certa a se fazer, me sentei em um beco ao lado de alguns mendigos, ratos e porcos que estavam vivendo por ali, e mandei toda aquela merda seca para dentro, de uma só vez, para ver se dava onda, realmente parecia ter dado onda, algo como uma dor no estômago, um gosto ruim na garganta de todas as merdas que eu tinha dentro da barriga voltando em um vômito ácido e verde, é eu realmente odeio essa maldita anfepramona, mas vocês me conhecem, eu não deixaria passar essa oportunidade, afinal eu consegui o que queria, o que todo Junkie quer, a dor, o prazer, a angústia, a onda, Aquela maldita onda.

sábado, 21 de agosto de 2010

É só a acidez habitual de uma noite de quinta feira.
Fugindo do tédio, que pinga das árvores, dos céus, dos semáforos em preto e branco que piscam por sobre as cabeças abaixadas no chão. Não resta nem ao menos o que dizer, diante da normalidade esmagadora da grande maioria social. Obrigado a tomar um banho de mediocridade pra entrar no que chamam de conversação, convívio, grupo social, escutando e conversando conversas do lado de fora: apesar de tudo, ainda é díficil pensar em ser parte dessa biomassa. Em algum lugar de lá de grupos A e B, estou eu: grupo M. Grupo Merda nenhuma. Grupo Me fodo pra você. Grupo M, bem pra longe de A e B. Esse sou eu.
A apoteose das causas que mal foram abertas, e perdidas há décadas, junto a todas as outras causas falidas que chamo de amigos e conhecidos. Vivendo por viver, em uma quinta-feira que poderia muito bem ser uma segunda, um domingo, ou uma hora dentro de um outro dia. Nunca se procura o sentido de algo que não deve ter um. E isso é a vida, porra. Seria como atribuir senso moral à um pedaço de qualquer coisa: Porque?

Meu refúgio é o luar, a noite, são as doses baratas de lsd misturada com anfetamina de baixa qualidade. A cerveja de boteco, as pracinhas, os condomínios e terraços do mesmo setor de sempre. São braços quentes e sorrisos frios, entrecortados por bolhas de sabão e alguma outra coisa sem significado. O ritmo das risadas acompanha a urgência que todos sentimos. Alguma coisa enterrada nos dentes de baixo, que os dentes de cima esmagam sem dó nem piedade. Uma mordida como que arrancando aquele pedaço de realidade que cheira a ranço e que você quer destraçalhar, pelo prazer de fazê-lo, como um gato negro brincando com uma barata. Ou a sexta punheta da noite. Ou um baseado depois de uma carreira. A respiração que fica curta e rápida, o sexomotordomundodescontrolado. Esse é o refúgio. Sempre fugindo para os pequenos e grandes prazeres comprados na esquina, na mesa de um bar, na curva de um beco, pra não ter que encarar a plasticidade desse mundo de brinquedo. Pra não ter que encarar suas crias, seus pomposos intelectuais sentados nas mesas dos cafés, com seus ares de belle epoque e suas rolhas de cortiça enfiadas bem fundas no cu. Toda a elite-escória, socializando com o resto da sociedade socialmente cega, sorrindo seus dentes perfeitos e bem-cuidados, suas roupas brilhando ao som dos neons de suas boates. Todo o cheiro de perfumes importados não escondem a podridão de seus cérebros e decomposição. Grupos A e B, todos iguais em sua bela pose do nosso retrato social;

E eu, grupo M, continuo fugindo. Sempre fugindo, pra muito longe de tudo. pra muito longe, logo ali na esquina de casa.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Manifesto JunkieBeat - Parte 1

Noites encharcadas de anfetamina barata, essa é minha sina.
Não tem porque viver se não for pra experimentar as sensações que a vida te oferece, minha única obrigação é aquela que tenho comigo mesmo: dissolver a realidade diante dos meus olhos, derreter de euforia os sons e as cores que me cercam devagar, como num sonho kafkiano sem fim. Existindo nos consumimos na aflição de não ter em que acreditar, visto que a fumaça embaça a mente e tudo se desfaz conforme a onda vai batendo aos poucos e o Todo aparece sibliando uivos de alegria: contemplar o Todo, ver dentro de si mesmo a Unidade e o Infinito, privilégio dos loucos que se entregam à liberdade de passear sem rumo pelo caloroso fardo de viver em vão.
Arrastam-se os momentos derramados no labor de existir; de cada um deles, extraímos pensamentos acorrentados um ao outro, o emaranhado de não-conclusas e imprecisas idéias vindas das mais improváveis situações. É a mistura imperfeita que nos faz humanos, impulsionada pelas mais variadas substâncias, preconceituadas de geração em geração, e que na verdade não são nada mais nada menos do que a pura Verdade de estarmos aqui nesse gigantesco ovo cósmico chamado Terra.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Dois Cadáveres

Escuro é frio demais. Essa neve de lua não rola, mano. To congelando aqui e só queria mais um - porra! Por que não tem ninguém aqui perto com alguma coisa?... Desgraça é só o que passa pela minha cabeça agora. Arrancar a vida de alguém, HAHA! Vamos lá. Não tem ninguém aqui, muito menos com mais um... Não posso pensar nisso. Mas como eu queria mais um agora... só mais um, merda. MERDA! Cadê aquele filho-da-puta do Jonas, aquele vagabundo viciado? VÁ PRA PUTA QUE PARIU SEU MERDA!


Ah não, agora essa sirene... To gritando sozinho e alto demais, aqui. Porra, é o que acontece com a mente da gente depois de se meter em tanta onda errada. Vamos andando. Acendo um cigarro. Vejo a noite prosseguir sem nenhuma procedência. Calma - esgotada. Paciência? Zero. Só quero encontrar mais um maluco antes de dormir. Pra botá mais um pra mim. Ééééé, só mais um... Carai, quando aquilo estiver na minha frente, vou mandar tudo pra cabeça de uma só puxada. E depois procurar um lugar pra dormir, que eu já to é muito chapado aqui, chapado pra caralho. Tem um casal andando ali.

Espera um pouco... O cara é o Jonas! AQUELE CARA É O JONAS! Vou correr pra alcançar ele. Não, mas será que é ele mesmo?... Ei, você ae mano, tu é o Jonas né? O quê? Tá de brincadeira comigo? Tu é o Jonas sim! Tu é o Jonas e vai botá um aqui pra mim agora que eu to fissurado, porra! E você, que é a mina do Jonas, num se mete não! Num se mete não que OLHA AQUI O TAMANHO DO MEU TRABUCO! TE ARREBENTO A CARA, SUA VADIA! E você, playoyzinho de merda, já que você não é o Jonas, você vai pro saco. Falow.

*POW!*



Correr. É só o que eu sei fazer, correr. Correr das sirenes. Correr das testemunhas. Correr das dívidas. Correr dos outros. Correr de mim mesmo.

Então eu corro, corro até não sobrar mais fôlego. Aí eu viro na primeira esquina e paro no primeiro beco. Acendo um cigarro. Minhas mãos tremem. Será que alguém ouviu o disparo? Ah, isso com certeza ouviram. Mas será que alguém fez denúncia? Será que tinha alguma viatura lá perto? Essa parte da minha memória está corroída pela vida obscura que venho levando. Não consigo ficar sentado, preciso estar alerta, ver, ouvir, presenciar a realidade como nunca antes. Porque agora eu sou um assassino - por conta da pior das bobagens que já fiz. E agora ouço de novo um som - já distorcido - de uma longínqua sirene na captura do bandido infeliz - eu.

E agora pego o trabuco e vejo que só sobrou uma bala.

Posso ficar aqui pensando em um milhão de justificativas,

mas depois que fizer o negócio, ninguém vai ficar sabendo.

Não vai fazer diferença, agora ou daqui a cinco minutos.

Então eu faço a coisa mais certa que já fiz: aperto o gatilho

sentindo o músculo da têmpora esquerda se despedaçar em carne e pólvora.

Agora não sou mais um assassino e nem um viciado, me respeite. Sou um Cadáver na calçada.