É só a acidez habitual de uma noite de quinta feira.
Fugindo do tédio, que pinga das árvores, dos céus, dos semáforos em preto e branco que piscam por sobre as cabeças abaixadas no chão. Não resta nem ao menos o que dizer, diante da normalidade esmagadora da grande maioria social. Obrigado a tomar um banho de mediocridade pra entrar no que chamam de conversação, convívio, grupo social, escutando e conversando conversas do lado de fora: apesar de tudo, ainda é díficil pensar em ser parte dessa biomassa. Em algum lugar de lá de grupos A e B, estou eu: grupo M. Grupo Merda nenhuma. Grupo Me fodo pra você. Grupo M, bem pra longe de A e B. Esse sou eu.
A apoteose das causas que mal foram abertas, e perdidas há décadas, junto a todas as outras causas falidas que chamo de amigos e conhecidos. Vivendo por viver, em uma quinta-feira que poderia muito bem ser uma segunda, um domingo, ou uma hora dentro de um outro dia. Nunca se procura o sentido de algo que não deve ter um. E isso é a vida, porra. Seria como atribuir senso moral à um pedaço de qualquer coisa: Porque?
Meu refúgio é o luar, a noite, são as doses baratas de lsd misturada com anfetamina de baixa qualidade. A cerveja de boteco, as pracinhas, os condomínios e terraços do mesmo setor de sempre. São braços quentes e sorrisos frios, entrecortados por bolhas de sabão e alguma outra coisa sem significado. O ritmo das risadas acompanha a urgência que todos sentimos. Alguma coisa enterrada nos dentes de baixo, que os dentes de cima esmagam sem dó nem piedade. Uma mordida como que arrancando aquele pedaço de realidade que cheira a ranço e que você quer destraçalhar, pelo prazer de fazê-lo, como um gato negro brincando com uma barata. Ou a sexta punheta da noite. Ou um baseado depois de uma carreira. A respiração que fica curta e rápida, o sexomotordomundodescontrolado. Esse é o refúgio. Sempre fugindo para os pequenos e grandes prazeres comprados na esquina, na mesa de um bar, na curva de um beco, pra não ter que encarar a plasticidade desse mundo de brinquedo. Pra não ter que encarar suas crias, seus pomposos intelectuais sentados nas mesas dos cafés, com seus ares de belle epoque e suas rolhas de cortiça enfiadas bem fundas no cu. Toda a elite-escória, socializando com o resto da sociedade socialmente cega, sorrindo seus dentes perfeitos e bem-cuidados, suas roupas brilhando ao som dos neons de suas boates. Todo o cheiro de perfumes importados não escondem a podridão de seus cérebros e decomposição. Grupos A e B, todos iguais em sua bela pose do nosso retrato social;
E eu, grupo M, continuo fugindo. Sempre fugindo, pra muito longe de tudo. pra muito longe, logo ali na esquina de casa.
massa, gostei do "sexomotordomundodescontrolado" e da acidez cotidiana.
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