Dá vontade de sumir igual o Kerouac; fazer uma mochila e zarpar pro mundo. Durante muito tempo pensei que fosse meu karma, fugir de tudo; às vezes eu preciso sair de perto de mim, porque me torno insuportável pra mim mesmo por uns tempos. Às vezes eu me torno meu próprio parasita.
É tudo à toa. Dos ouvidos pra fora existe o silêncio; só existem sons do lado de dentro. As cores só aparecem no interior da retina; por fora o mundo é silencioso e escuro. Não tem cheiro, não tem gosto, não tem ninguém; você é sua mente que parasita seu corpo e o resto é irreal; uma ilusão magnífica e devastadora. Estamos todos juntos dentro da mesma alucinação. Eu não pedi pra usar essa droga poderosíssima chamada de vida, ela foi inoculada em mim forçadamente; seus efeitos podem durar segundos ou anos, mas a única certeza que tenho quanto à sua composição é que vou ter uma overdose assim que a onda terminar e morrer de volta pro nada total.
Quando acabo de colocar um papel na língua, fico apressado pra fazer tudo de bom que conseguir enquanto a loucura estiver. Preciso falar, preciso sorrir, preciso ver coisas extraordinárias de tão simples, pensar em coisas absurdas, conhecer lugares, pessoas absurdas, estar vivo de verdade, sair à noite sem rumo com uma garrafa de vinho nas mãos, sozinho, hipnotizado pela lua lá no céu, protegido pela escuridão e pelas estrelas silenciosas que me acompanham. Há uma vontade inexplicável de abraçar o tempo em agradecimento àqueles momentos tão bem-aproveitados e felizes.
Hoje eu percebi que a vida é uma droga poderosíssima, daquelas que você tem certeza que só vai tomar uma vez pra experimentar; só que antes da metade da onda já está viciado e com medo de acabar. Abstinência de vida é a pior coisa que existe. Depois que você toma, começa fraco, um fiozinho de loucura; depois de uns anos você até aprende a controlar a onda (mais ou menos), mas segurar é impossível. É pancada demais, e vai ficando cada vez mais pesada até atingir o auge, lá pelos trinta anos depois de começar. Nada de trinta minutinhos pra bater - são trinta ANOS, velho. Pode esperar. Eu comecei a viajar há dezoito anos atrás e já to alucinado aqui, transtornado. Depois muito tempo você percebe que a onda tá acabando, ficando mais fraca, até acabar de vez.
É uma oportunidade inigualável de conhecer um mundo novo. Um mundo onde todas as pessoas estão loucas de no mínimo uma droga em comum: vida. A Terra é um planeta em festa, uma rave absurdamente gigantesca, onde todo mundo ganha um comprimido de vida na entrada. O preço do ingresso é simbólico: basta colocar o comprimido na língua e esperar dissolver.
Boa viagem.
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