O dia é frio e a noite é escura. Frenesi descompassado rege os passos dos calçados roletando na cidade, lá pelas seis horas do viaduto tampando o pôr-da-luz acima das cabeças.
Um maluco parado passando um ar de estaticidade olha as horas no punho esquerdo enquanto espera, no infernal redemoinho de movimento que o cerca, parado em frente à distribuidora de bebidas, esperando, na frente do viaduto e suas sombras que já iam caindo conforme os carros iam sempre a rodar suas rodas pra frente. Só pra frente.
Então ele perde a paciência de tanto esperar quando ouve um assovio de outro maluco que o cumprimenta entregando-lhe, junto com um sorriso de boasvindas, a Hóstia Sagrada do Prazer Espírito-carnal, o Supra-Sumo da experiência sensorial humana na Terra, a chave que abre a torneira enchurrante dos pensamentos irrefreáveis, colados nos sentires sortidos da percepção.
Paga o maluco.
Põe na boca.
Espera.
Quando estamos sob efeito do ácido - já em níveis avançados, depois das três horas pós-ingestão - a matéria é só um ponto sólido ínfimo e completo flutuando no nada total. Se você olha por um lado - coloca aquela música certa, vai praquele lugar, com aquelas determinadas coisas ao redor e iluminação próprias, onde tenha exatamente aquela cerveja que te deixa no grau certeiro e se por um acaso você acaba - por causa disso tudo - levando AQUELA específica mulher pra sua cama - aí então pode-se dizer que nada vai sobrar do que você entende por espaço, matéria, cama, dama, tempo, escuro, cheiro, gosto, goso, dente, carne, língua, pernas, sangue, passado, vida.
Se pingar na terra o suor daquela foda, vão brotar eufolegrias com semente de skunk limonado.